
Entrar no mundo do trabalho pode ser mais assustador do que pensamos.
Uma comédia séria é um género que raramente vemos, ou até uma comédia que nos faça pensar. Usualmente são produtos de puro entretenimento, sem qualquer conteúdo ou objectivo. Há situações em que sabe bem rirmo-nos de coisas disparatadas, mas, este não é o caso. Office Space é na realidade um filme sério, camuflado por apontamentos cómicos que nem sempre nos fazem rir. Mas, isso não é necessáriamente mau. Passo a explicar. Este é daqueles filmes únicos, que nos assusta de tal forma com a realidade que retrata, que nos é impossível rirmo-nos dela. Seja porque já passámos por aquela experiência, ou apenas porque sabemos, inevitavelmente, que teremos de a experiênciar.
Os moldes em que o filme se apresenta mostra-nos o típico trabalho de escritório numa grande empresa. Em que cada empregado tem um pequeno cubículo, no qual passa mais de metade do seu tempo de vida a fazer algo que detesta. A obrigação de ter um trabalho que pague as contas torna as pessoas conformadas e rouba-lhes qualquer espécie de vida feliz. Ron Livingston encarna esse indivíduo, que somos nós, é o nosso vizinho da frente, são os nossos pais e, provavelmente, serão os nossos filhos. É meio mundo que não seguiu os seus sonhos, que os deixou em espera enquanto resolvia um sem fim de responsabilidades e obrigações. São todos aqueles que nunca se acharam merecedores de mais do que já alcançaram. São apenas vidas em piloto-automático, à espera que alguem os acorde, ou que desligue a ficha de uma vez por todas.
As personagens são esterotipadas o mais possível, por que precisam de o ser, porque alguém já conheceu certamente falhados como aqueles, porque outros são esses mesmos falhados. A vida num cubículo, organizada das 9 às 5 e vazia nas horas restantes.
Office Space é um Fight Club em suspenso.

 Etiquetas: Criticas |
Sem um objectivo argumentativo, "Office Space" é sim uma boa compilação de sketches cómicos - muitos deles quase a fazer lembrar os mais recentes "Gato Fedorento" - que ganha bastante consistência devido às suas personagens bastante esteriotipadas e bem interpretadas.
Ou seja, "Office Space" é um filme de avaliação complicada. Se é verdade que poucos foram os filmes que fizeram-me rir sozinho como este, também é a mais pura das verdades que poucos foram os que tão indiferente conseguiram deixar-me.
E atenção à árdua interpretação de Stephan Root... simplesmente fantástico.
Cumprimentos.